domingo, 10 de outubro de 2010

Dicionário Porto Alegrês

Em todos os cantos do Brasil encontramos várias gírias e palavras diferentes que achamos engraçado ou até mesmo não entendemos seu significado, aqui vai um pequena parte das gírias mais usadas na grande Porto Alegre...vou postando um pouco por semana.

A

A DAR COM PAU - Em grande quantidade, muito, fartamente. O mesmo que  "a
três por dois" (v.): "Tinha gente a dar com pau".

A FACÃO - Diz-se de algo que foi mal feito, ou feito às pressas, que foi
feito a facão, isto é, sem o instrumento  adequado,  sem  o  refinamento
exigido. Parecido com "à moda miguelão"


A FUDER - Pela ortografia brasileira deveria grafar-se "a foder", mas  é
"a fuder" a expressão, que tem uma forma contrata, "a fu", que também se
diz, malandra- mente segundo o  critério  popular,  "a  fuzel";  designa
aquilo que é muito bom, de alta qualidade, tanto uma situação ("Tava uma
festa a fuder") quanto um sujeito ("Bá, esse cara é  a  fuder");  também
quer dizer "a fazer"


A MIL - Expressão de valor adverbial, de uso brasileiro  geral,  parece.
Aqui também se usa, para exagero, "a milhão".

À MODA MIGUELÁO - Sei lá eu por que 16- À Moda Miguelão
raios, mas o certo é que algum miguel (terá sido o anjo?) deu  origem  a
dois termos do porto-alegrês, o "migué"  (v.)  e  este  agora.  "À  moda
miguelão"  qualifica  certo    procedimento,  estabanado,  im   preciso,
apressado, de que resulta um serviço mal feito.


A PAU E CORDA - Com muita dificuldade: "A pau e corda  conseguimos  essa
grana"; "O carro saiu do lamaçal a pau e corda".

A PÉ - "Ficar a pé" pode significar simplesmente ficar sem o  auto,  sem
condução, mas também quer dizer ficar sem algo imprescindível: "Fiquei a
pé de grana", por  exemplo. Ver "de a pé".


À PONTA DE FACA - Expressão que designa a atitude espiritual de
alguém que leva as coisas duramente,  sem  concessões,  sem  meios-tons;
esta criatura leva tudo "a  ponta de faca".

À REVIRIA - Em grande quantidade, a rodo, "a dar com pau" (v.). De  onde
terá vindo isso? Talvez de "rêverie", francês para sonho,  devaneio?  Ou
uma corruptela de  "á revelia", expressão com a qual aliás a  nossa  não
tem nada a ver, semanticamente? "Tinha gente à reviria", por exemplo.


A RODO - O mesmo que "a varrer" (v.): em grande quantidade.

A TODA - Rapidamente, velozmente, com toda a velocidade possível.

A TODAS ESSAS - Versão para a expressão narrativa  "Enquanto  isso".  "A
todas essas eu nem sabia o que se passava com ele"


A TODO O PANO - Segundo o Aurélio, a  expressão  significa  com  toda  a
velocidade, com origem nos panos que servem de vela para os barcos.  Por
aqui parece que significa  outra coisa: se alguém quer  a  todo  o  pano
alguma coisa, ele a quer com toda a ênfase, com toda a vontade possível,
não importando os obstáculos, sem nada a ver com  velocidade.

A TROCO? - O mesmo sentido de "por quê?", "para  quê?",  "por  causa  de
quê?". Derivou, por encolhimento óbvio, da expressão  "a  troco  de  que
santo". E usada assim mesmo,  a seco: "Tu quer que eu vá lá? A  troco?".


ABAIXO DE PORRADA - Expressão de largo uso, refere a circunstância de
alguém
ter apanhado (real ou metaforicamente) muito. Outras expressões começam  do
mesmo jeito: "abaixo  de grito"; "abaixo de pau" (surra), "abaixo de chuva".

ABAIXO DO CU DO CACHORRO - também "abaixo do cu  da  cobra",  que  é  menos
comum. A expressão designa a posição mais que  humilhada,  absolutamente
subordinada de algo ou alguém. Quem foi insultado,  quem foi  desprezado,
quem está deprimido, se sente assim, nesse lugar metafórico.

ABANAR AS TRANÇAS - Costuma-se usar a expressão em referência a gente
jovem,
em  especial  moças,  que  saem  por aí "abanando  as  tranças",  isto  é,
fazem coisas livremente, irresponsavelmente.  Claro  que  não  precisa  ter
trança mesmo para dar origem ao uso.

ABATUMADO - Diz-se do pão ou da massa que ficou pesada, parece que por
falta
de fermento em quantidade adequada. Eventualmente se usa  para  situações
que
resultaram igualmente  pesadas, confusas, malparadas. Se usa o verbo
"abatumar" também.

ABICHAR - Levar medo, acovardar-se diante de alguma  dificuldade,  desistir.
Deve ser algo como "ficar medroso como um bicho" e, portanto, não reagir como
homem. Ou então "ficar  medroso como uma bicha", segundo o conceito corrente
machista. Outra hipótese: que o termo tenha derivado de "bichar", que  se  usa
para animais na campanha, quando estão com alguma  doença (carrapato, por  exemplo),
e também se usa para frutas, quando estão apodrecendo e "criam"
bicho.

ABICHORNADO - Nada a ver com "abichar": "abichornado"  é  o  cara  que  está  sem
graça, ou que perdeu a  graça.  Gente  doente  fica  "abichornada",  por
exemplo.

ABOBADO - Trata-se de um insulto muito usado contra os xaropes  (v.)  em
geral; comporta variações:  "abobado  da  enchente",  alguns  dizem  que
devido à famosa enchente    de  1941,  quando  Porto  Alegre  submergiu;
"abobado da tiriça" (v. "na tiriça"), expressão que pode ser derivada de
icterícia. Tem também "abobado da punheta", insinuação  de que, conforme
a velha idéia, o exercício reiterado da masturbação deixa  o  cara  meio
louco da cabeça.

ABOSTAR - Verbo de largo uso que significa aplastar-se, deixar-se ficar,
afrouxar, relaxar, descansar,  e  não  tem  necessariamente  sentido  de
reprovação; é, porém,   insultuoso  chamar  alguém  de  "abostado",  que
equivale a "burro",  "matusco",  "bocó",  "mocorongo"  (v.);  a  palavra
"abostamento" me parece ser usada com sentido positivo,  de relaxamento.
Terá surgido por analogia com a situação da bosta, que  quando  expelida
do corpo de um animal fica ali, daquele jeito? O  estado  de  quem  fica
"abostando"  se chama de "abostamento".

ABRIR A GRAXEIRA - Voz popular para descrever a resolução de  começar  a
falar tudo o que sabe, ou para  gritar.  "Graxeira",  de  primeiro,  era
apenas aquela caixa de  gordura que fica debaixo da pia  da  cozinha,  e
abri-la para limpar sempre foi uma coisa "por demais".

ABRIR O AÇOUGUE - Na gíria futebolistica,  quando  acontece  o  primeiro
lance meio criminoso (contra o nosso time, em  especial),  com  dano  ou
expectativa de dano físico,  se diz que "abriram o açougue".

ACABAR COM A RAÇA - Diz-se, em tom de ameaça a sério (raras vezes em tom
de  blague),  "Vou  acabar  com  a  tua  raça",  significando  que   vai
"estrachinar" (v.) o cara,  que se pudesse mataria fisicamente o cara  e
sua família.

AÇO - Se algo "está que é um aço", é porque está no melhor de sua forma,
"está na ponta dos cascos" (v.). Por outro lado, -aço é um sufixo  muito
produtivo na língua  do local,  significando  a  designação  do  ato  ou
efeito  daquilo  que  a  palavra-matriz  indica,  como  "cagaço"   (v.),
"guampaço", "braguetaço" (v.), "relhaço",  "fundaço",    ou  um  simples
aumentativo, como em mulheraço, tranqüilaço, inteiraço, bonitaço, etc.

ACOAR - Ladrar, latir (o cão). E o resultado é o acôo, mais uma  palavra
da língua que tem esse acento bacana.


AÇUCRINHA - Pequena quantidade de açúcar, bastante para adoçar  o  café:
"Bota um açucrinha no meu". É voz popular, mas de brincadeira todo mundo
diz.

ADEUS, TIA CHICA - Forma de declarar que "deu pra bolinha" do  que  quer
que seja, definitivamente, para nunca mais.  "Se  a  gente  conseguir  a
grana, aí  adeus,  tia  chica",    por  exemplo.  Pode  ser  usada  como
comentário tanto de horrores como de maravilhas.

ADEVA  -  Advogado,  em  forma  apocopada.  Coisa  aliás    típica    do
porto-alegrês: ver "refri", por exemplo.

ADIANTO - Uma coisa ou um gesto é um "adianto" se serve para abreviar  o
caminho que se precisa percorrer até o objetivo final; se o cara precisa
de cinco mil e ganha mil, já é um adianto; tem a ver com  "se  adiantar"
 - Pequena quantidade de açúcar, bastante para adoçar  o  café:
"Bota um açucrinha no meu". É voz popular, mas de brincadeira todo mundo
diz.

ADEUS, TIA CHICA - Forma de declarar que "deu pra bolinha" do  que  quer
que seja, definitivamente, para nunca mais.  "Se  a  gente  conseguir  a
grana, aí  adeus,  tia  chica",    por  exemplo.  Pode  ser  usada  como
comentário tanto de horrores como de maravilhas.

ADEVA  -  Advogado,  em  forma  apocopada.  Coisa  aliás    típica    do
porto-alegrês: ver "refri", por exemplo.

ADIANTO - Uma coisa ou um gesto é um "adianto" se serve para abreviar  o
caminho que se precisa percorrer até o objetivo final; se o cara precisa
de cinco mil e ganha mil, já é um adianto; tem a ver com  "se  adiantar"

A-FIM - Não confundir com afim. "Estar a-fim", que  estou  grafando  com
hífen, quer dizer estar disposto a, seja lá o  que  for  que  esteja  em
causa: "As gurias tão tri  a-fim", como diz a famosa canção Deu pra  ti,
do Kleiton e do Kledir.

AFOFAR - Fazer carinhos. Muito usado a respeito de crianças pequenas.

AFROUXAR O GARRÃO - Levar medo, desistir da empreitada, "tremer na base"

ÁGUA - Bebedeira, porre. Diz-se que o sujeito que bebeu muito "está numa
água" medonha.

AGUAÇAL - Uma  chuvarada  medonha,  como  acontece  de  vez  em  quando.
"Aguaceiro" (v.)

AGUACEIRO - Grande quantidade de água, especialmente em chuvas fortes  e
parelhas. Também dito "aguaçal", no mesmo sentido.

AGUENTAR - Esperar. Diz-se "Agüenta um pouco aí que eu já  volto".  Mais
popularmente, "Güenta ai". Tinha a expressão  de  mesmo  sentido,  pouco
usada, "agüentar a mão",  que também significava sustentar uma  posição,
uma situação.

AGUENTAR O TIRÃO - Do vocabulário
  gauchesco, significa agüentar o tranco, se é que dá  pra  entender.  O
"tírão" aí tanto pode ser a tarefa, quanto a responsabilidade,  qualquer
que seja, que esteja em causa. Originalmente, "tirão" pode ser um golpe,
feito aqueles que o laço dá no animal. O mesmo que "agüentar o golpe".

AGUENTAR O TRANCO - O mesmo que "agüentar o tirão".

AH, PÁRA - Expressão muito usada  em  diálogos,  para  manifestar  certa
estupefação com a informação dada pelo interlocutor. "E tem mais: o cara
é ladrão", ao que  se pode responder, incrédulo, "Ah, pára!"  É  de  uso
bem parecido com "Capaz" (v.), e diferente de "Te pára" (v.). Ver também
"se parar".

- Saudação corrente: o cara enxerga o conhecido  e  simplesmente  diz
"Aí", com o i bem espichado e ligeiramente anasalado, eventualmente  com
leve entonação interrogativa,    algo  como  "aiiiããn".  Pode  acontecer
também a saudação muito mais formal, "E ai?", significando "Como  é  que
vão as coisas contigo, tudo bem?". Pode ser também usada  em composição,
"E aí? Valeu? "(v.). Ver "firme?" e "No mais, tudo bem".

AÍ A JURUPOCA VAI PIAR - Expressão que vaticina que, digamos,  "a  cobra
vai fumar", como se diz noutras partes do país. Ou  seja:  a  coisa  vai
mudar de rumo, alguma  providência vai ser  tomada,  alguém  que  esteja
envolvido vai "partir pra ignorância". De onde  saiu,  não  faço  idéia.
Jurupoca é, conforme o Aurélio, um peixe  teleósteo,    siluriforme,  da
família dos pimelodídeos, seja lá o que isto tudo signifique. Também  já
ouvi "a jiripoca vai piar".

AÍ É BRABO - Frase que resume um juízo  sobre  a  impossibilidade  ou  a
inviabilidade ou ainda a indisposição a
        respeito de certa pretensão. Te pedem para ires de carro até não
sei  onde,  bus  car  não   sei    o    quê    e    ainda    pagar    as
 despesas, e tu respondes "Mas aí é brabo".

ALERTAR OS GANSOS - Expressão que designa o despertar da consciência  de
alguém para algo que desejaria que se mantivesse incógnito. Por exemplo:
"Cuida pra não alertar os gansos" pode ser dito por alguém para um amigo
que estava a ponto de dar  pista  sobre  algo  de  muito  bom  que  está
"pintando", mas que deve  ser de conhecimento de poucos.

AMORCEGAR - Retardar (o jogo, o serviço)  deliberadamente,  para  ganhar
tempo ou para irritar o adversário: "Contratei o cara para ele  fazer  a
calçada mas ele ficava amorcegando tanto que eu resolvi fazer eu mesmo o
serviço".

ANARQUIZAR - Como no resto do país, significa fazer desordem.  Mas  acho
que a regência aqui é peculiar: se  usa  dizer  "anarquizar  com"  certa
coisa ou certa pessoa.  De largo uso é a frase "anarquizar com tudo".

ANDAÇO - Seqüência de alguma coisa, ocorrência repetida de algo. "Deu um
andaço de sarampo" é o mesmo que epidemia.  Por  extensão  se  aplica  a
qualquer coisa: "Deu  um andaço de casamento" significa que muita  gente
resolveu se casar, num curto espaço de tempo.

ANTES DE CASAR SARA - "Sara" do verbo sarar, bem entendido, nada  a  ver
com alguma Sara. Expressão levemente  brincalhona  com  que  se  procura
consolar a criança (ou  outra criatura qualquer) que se machucou, que se
pisou (v. "pisar").
-ÃO - Sufixo altamente produtivo  no  porto-alegrês.


APATIFAR - Termo dicionarizado já, significa estragar,  fazer  desandar,
esculhambar, malbaratar algo (ou, mais raramente, alguém).

APÁ-VORADO - Claro que não se escreve assim, é apenas "apavorado", mas a
pronúncia é que é: se diz bem como está escrito,  com  total  ênfase  no
"pá" e o resto tudo  átono: "Quando veio a noite eu fiquei apá-vorado".

APÊ - Termo corrente para apartamento.

APORRINHAÇÃO  -  Irritação,  incomodação,  "encheção  de  saco".    Está
dicionarizado, mas parece que em várias partes do país se  prefere  usar
apoquentar, no mesmo sentido.

APURADO - Apressado, e só isso. Fica- se "apurado" pra ir  ao  banheiro,
pra ir ao banco, etc. Aqui não se usa o sentido de tornar mais puro. Vem
direto do espanhol  de uso popular, "apuro" como sinônimo de pressa.

ARIGÓ - O mais desqualificado trabalhador da  construção  civil,  aquele
que senta tijolo, ou menos que isso, que carrega cimento, que traz a pá,
qualquer coisa. Dito,  por extenso, arigó de obra.

ARRASTAR - Levar junto, especialmente  levar  alguém  junto  para  algum
lugar: "Pode deixar que eu arrasto ela pra festa". Ver "de arrasto".

ARRASTAR A ASA - Diz-se que quem está interessado por alguém, em  estado
de paixão, está "arrastando (a) asa  pra  fulano(a)".  Deve  ter  alguma
explicação quem sabe ligada ao pavão ou a algum outro bicho asado.

ARREGANHO - Tem o verbo (se) arreganhar, que  aqui  significa,  como  no
Brasil em geral, mostrar os dentes, se abrir (v.) todo, e aqui  é  muito
usado, inclusive familiarmente.  Mas  o  termo  "arreganho",  por  aqui,
ganhou o sentido de  atividades  lúdico-sexuais,  atitudes  libidinosas,
"arreto"  (v.).  De  dois  adolescentes  que  estejam    brincando    as
brincadeiras do sexo inicial, se diz que "estão de arreganho" ou, ainda,
"estão  se  arreganhando".  Curiosamente,  também  se  diz  o  mesmo  de
crianças, pré-adolescentes como se diz  hoje  em  dia,  que  estejam  de
brincadeira no limite da tolerância. E este sentido não é  único:  há  O
caso de pais que, para fazerem sossegar um filho  ou  filha  pequenos  e
inquietos que está incomodando para ganhar certo presente, rindo  à  toa
numa antecipação da vitória sobre a resistência deles (os  pais),  há  o
caso de pais que dizem a este filho: "Tu não fica  te  arreganhando  que
não vai levar".

ARREGAR - Veio  de  "arreglar",  que  significa  arranjar  uma  solução,
improvisar um arranjo, mas passou a significar ceder: "Eu entesei e o cara arregou pra mim".

ARREGO - Veio de "arreglo", arranjo, e perdeu  o  "l".  Ainda  significa
arranjo, acomodação de interesses, facilitação, mas passou a  incorporar
também o sentido de chance: "Pô, me dá um arrego pra eu entrar ai", pode
alguém pedir ao porteiro.

ARREMANGAR - Arregaçar as mangas, termo vindo direto do espanhol. Há  um
dito bravateiro, "Te arremanga e vem", pronunciado como provocação a  um
interlocutor que hesita em entrar na briga ou na tarefa.

ARREPIAR - Levar medo, a ponto de fugir da responsabilidade ou da briga.

ARRETO - Como no Brasil, aqui também  se  usa  o  verbo  "arretar"  como
sinônimo de excitar sexualmente. Mas acho que o  "arreto"  se  usa  mais
aqui, no sentido este mesmo, de ato de arretar. Mais raramente,  se  diz
pejorativamente que é um arreto uma situação que não se define, que  não
é "às ganha" (v.), que não é "a fu".


ARRIADO - Dois sentidos: ou é um cara que se arria (v. "se arriar")  nos
outros, ou é um sujeito que está circunstancialmente  frouxo,  esgotado,
cansado (v. "arriar").

ARRIAR - Uso derivado do  uso  geral  da  palavra,  quer  dizer  baixar,
diminuir, desfazer(-se). Usa-se dizer "arriar as calças"  para  "abaixar
as calças". Também se  usa  o  verbo  num  outro  contexto,  em  sentido
aproximado: quando a gente chega em casa muito cansado, esgotado, "arria
na cama". Ver "se arriar", que é diferente.

ARRODEAR - Aquela dança, mais simbólica que real, que alguém faz em roda
de alguém, com vistas a ganhar alguma coisa.  Por  exemplo,  criança  em
volta do pai ou da mãe, querendo que o adulto a  leve  a  passear:  esta
criança está arrodeando o pai  ou  a  mãe.


ÀS BRINCA - O contrário de "às ganha" (pelo certo, seria "às  brincas"):
trata-se da qualidade de um jogo em que as apostas não serão consumadas,
em que ninguém vai cobrar  do  perdedor,  em  que  ninguém  apanhará  de
verdade, etc. E do universo da  bolinha  de  "gude"  (v.),  em  primeiro
lugar.

ÀS GANHA - O contrário de "às brinca" (v.); designa a aceitação  de  que
as regras combinadas ou tácitas são pra valer mesmo, e se alguém  perder
no jogo algumas bolinhas de gude, elas serão  de  fato  transferidas  de
dono (pelo  certo  gramatical  culto,  seria  "às  ganhas");  o  uso  da
expressão, no  universo  infantil,  em  geral  vem  acompanhado  de  uma
seriedade inaudita, e todos se compenetram da responsabilidade em causa.

ASA - Mau cheiro das axilas, ditas sovacos. Também se  usa  dizer,  meio
pudicamente, cecê, que o Aurélio  dá  como  cêcê  (hipótese;  cheiro  de
corpo). "O cara tá numa asa federal".

ASPAS - A cabeça, genericamente. "Levar um trompaço no meio  das  aspas"
quer dizer bater com a cabeça.

ASSIM, á - Expressão que preludia a explicação de algo:  "Assim,  ó:  tu
pega aqui na tua direita, segue duas  quadras  e  tu  vai  sair  bem  lá
perto". Também usada apenas como ameaço: sujeito que  queira  demonstrar
seu desapreço, seu desacorçôo com algo que lhe foi dito, comenta  apenas
"Assim, á", podendo acrescentar "tô de cara com essa pinta".

ATACADO DAS BICHAS - Forma parecida com a  "atacação"  (v.).  Também  se
usava dizer "atacado da fefa", sei lá por que.

ATÉ DIZER CHEGA - Até o limite  imaginável:  "Beberam  ontem  até  dizer
chega".

ATÉ O CHICO CHEGAR DE BAIXO - Dito gracioso  (pelo  som)  para  dizer  a
mesma coisa que "até o cu fazer bico" (v.) e "até dizer chega"


ATÉ O CU FAZER BICO - De origem que nem consigo imaginar, significa  até
um limite inimaginável, até o limite do suportável, até o fim;  para  as
crianças, há quem  diga um trocadilho, "até o bi fazer cuco".

ATÉ OS GARGUMILHOS - Até o limite possível, até encher. O mesmo que "até
dizer chega" (v.). Gorgomilos, segundo o Aurélio,  designa  a  goela,  o
começo do esôfago. Também já ouvi "Até os gorgomilho",   sem  o  "s"  de
plural.

ATILHO  -  O  nome  daquela  borrachinha  que  se  usa  para    envolver
especialmente papéis, por exemplo dinheiro, nos bancos.

ATOCHAR - Mentir. No português, quer dizer entulhar, encher, e dai  deve
ter vindo o sentido esse nosso: encher de mentira, encher  de  conversa.
Usa-se "atochada"  correntemente para mentira.

ATORAR - Verbo dicionarizado, que aqui se usa  em  sentido  derivado  do
original: quer dizer cortar, simplesmente. Pode-se atorar um dedo, o que
significa apenas cortar, fazer um corte, qualquer corte de  profundidade
razoável (e não necessariamente  cortar  fora  o  dedo),  como  se  pode
atorar caminho, atalhar.

ATRAQUE - "Dar um atraque" equivale a fazer uma abordagem, desfechar uma
ação, especificamente a abordagem ou a ação amorosa e  sexual:  "Dei  um
atraque na mina".  Certamente veio do verbo atracar, no  sentido  naval.
Mas há outros usos, bem mais raros, como o caso daquela piada: o sujeito
(na versão de Pelotas, o sujeito é um  rio-grandino)  ia  registrar  uma
filha, cujo nome, escolhido pela mãe, era, digamos, Ardósia. Ocorre  que
o pai esqueceu o nome durante o caminho, e chegando ao cartório    disse
ao escrivão, quando este perguntou pelo nome da guria:  "Ah,  atraca-lhe
Ana". E  ficou  Atracaliana.  Neste  caso,  "atracar"  significa  botar,
atirar, jogar sem  qualquer cuidado.

ATRASO - Quem está num atraso (sempre com este "um") está carente, especialmente no sentido sexual. Há outros sentidos, mas  este  é que é. Daí se usa dizer  "tirar  o  atraso"  para  designar  o  encontro sexual.

ATROLHO  -  Situação  resultante  de  atrolhar-se:  confusão,   excesso,
balbúrdia indesejável. Uma festa muito cheia de gente é um "atrolho".

ATUCANAÇAO -  Preocupação,  aborrecimento,  sobrecarga  de  trabalho  ou
encargo. O sujeito vítima deste mal é um atucanado. O  verbo  também  se
usa: "se atucanar". Tem algo que ver com o  tucano,  o  bicho?  Só  Deus
sabe. Apolinário Porto Alegre,  no  seu  Popularium,  diz  que  o  termo
atucanar se deve ao fato de o tucano ser um bicho  que  destrói  outros,
faz maldade, etc. (E quem inventou de escolher o tucano como símbolo  do
PSDB sabia disso?)

AUTO - Termo corrente para designar  o  deus  do  século,  o  automóvel,
também dito carro. Aqui e na região da  Grandissima  Porto  Alegre  (que
compreeende Montevideo e Buenos Aíres) é assim que se diz.

AVIÃO - Parece que significava  apenas  a  mulher  bonita,  mas  se  usa
elogiar  alguém,  homem  mais  que  mulher,  por    alguma    habilidade
particularmente desenvolvida, dizendo-o "avião" em algum metiê: um aluno
pode ser um "avião" em matemática, um mecânico pode ser  um  "avião"  em
acertar um motor, etc.

AVOADO  -  Diz-se  do  sujeito  despreocupado   até    o    limite    da
irresponsabilidade, aquele que faz coisas sem pensar nas  conseqüências,
que  não  presta  atenção.  Quase  o  mesmo  que  "estabanado"  (v.)   e
"destrambelhado" (v.).

AVON - Expressão que veio da redução de "à vontade" e  quer  dizer  isso
mesmo. Tem valor de adjetivo ou advérbio.

AZAR DO GOLEIRO - Sim, todos sabemos que o azar  é  do  goleiro,  mas  a
expressão é usada fora do futebol, quando alguém quer dizer que  dane-se
quem tiver que se danar; equivalente, neste sentido, a "piça"  (v.);  há
também o dito: "Todo bom goleiro precisa ter um  pouco  de  sorte",  que
talvez não tenha nada a ver com a expressão, mas enfim...

AZEITE - O mesmo que "azar fresquinho", e dito com o  mesmo  gosto  pela
penúria de quem está sofrendo.


Em breve as gírias com a letra "B" 



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